Existe momento certo para empreender?

Sem dúvida essa é uma questão que paira as cabeças de muitos profissionais – dos mais experientes aos recém-iniciados no mercado de trabalho. De fato, chegar a tal conclusão não é das tarefas mais fáceis, ainda mais pelo país que vivemos de economia instável, alta taxa de impostos e burocracias já conhecidas, que desencorajam muitos a apostarem em um negócio próprio.

Por outro lado, apesar desta “maré contrária”, há uma outra trazendo brasileiros que acreditam em seu futuro feito com as próprias mãos. Dados recentes de uma pesquisa realizada pela startup norte-americana Expert Market, aponta o Brasil como o 5 º país com empreendedores mais determinados no mundo. O resultado partiu de dados levantados do Banco Mundial que definem qual a dificuldade para empreender em cada um deles.

Quer outra prova da máxima “sou brasileiro e não desisto nunca”? De acordo com a ABStartups, uma entidade sem fins lucrativos que promove o empreendedorismo no país, divulgou um levantamento recente que mostra a existência de mais 4000 startups em estágio inicial no país.

Com isso voltamos à provocação: Existe hora para empreender? Em tese, o jovem está mais propenso a trocar uma vida dita como “estável” para uma aposta em um negócio próprio. Mas há também muitos casos no mercado de profissionais já com uma carreira consolidada optarem pelo furacão de emoções proporcionados ao ser dono de uma PME ou startup.

Somos criados em uma sociedade incentivadora da ideia que uma vida boa é aquela onde se bate ponto de entrada e saída, com auxílios refeição, alimentação, planos de saúde – como se isso fizesse-nos mais pertencentes ao mundo.

Para empreender é preciso sair desse clichê e ter uma enorme vontade de transformar. Como inspiração, cito dois grandes empreendedores brasileiros que fizeram sua história em momentos diferentes mas trazem grandes lições.

O primeiro é Gustavo Caetano, CEO da Samba Tech, considerado o “Mark Zuckenberg brasileiro”. Ele desenvolveu uma solução para produção de vídeos e vendas de publicidade online pioneira na América Latina e sua startup é hoje um dos grandes cases brasileiros.

Tudo começou em 2004 quando, à época Gustavo estava no último semestre de Marketing no Rio de Janeiro e era estagiário da Unimed, onde seu pai trabalha. Já ali sentia-se incomodado com a burocracia e hierarquia habituais de muitas grandes empresas.

Seu insight foi promovido por um celular recebido de presente que se resumia uma tela colorida 16 cores. Gustavo, esperando por seu voo em um aeroporto tentou baixar um joguinho em seu celular e não conseguiu.

Ele tinha acabado de aprender na faculdade que quando você quer alguma coisa que não existe é porque isso tem demanda de mercado. Com esse conceito em mente, ele pesquisou sobre o assunto e viu que o de games para celular já existia na Europa e EUA.

Por isso, montou um plano de negócios e conseguiu uma reunião com um produtor de jogos de Londres. Gustavo foi até lá, apresentou a ele seu projeto e foi muito bem recebido, trazendo-o já como parceiro para distribuição na América Latina.

O desafio era agora a busca por capital para abrir a empresa e contou com a ajuda de seu pai que o apresentou a um investidor-anjo, que resolveu apostar na ideia. Com o aporte inicial, montou a Samba Tech em uma sala de 5 m². Para ajudar na produção de conteúdo teve como braço direito seu atual Diretor de Marketing, Rodrigo Paolucci. Na época, a Samba se tornava umas primeiras empresas a distribuírem jogos de celular no país.

O negócio cresceu bastante, até que em 2007 Gustavo viu que o mercado não era tão escalável como imaginou. Naquele momento, só grandes empresas estavam tomando conta das grandes operadoras e o restante dos competidores, assim como a Samba, se viram disputando uma parcela muito pequena dos projetos.

A partir desse cenário de crescente adversidade que a Samba resolveu mudar seu foco de atuação, apostando no mercado de vídeos online, muito por perceber também a comunicação digital germinar.

O resultado?

Foi desenvolvida uma plataforma exclusiva para distribuição e gestão de conteúdos pela Internet. O crescimento do mercado de streaming de vídeo e de uma maior rapidez e facilidade na troca de informações já se mostravam como tendências. Foi mesmo o momento certo de mudar.

Depois do fato muito aconteceu para a SambaTech ser o que é, mas veja, a oportunidade de empreender surgiu por ter um olhar crítico a uma oportunidade real de mercado para inovar.

Outro exemplo vem do carioca Luis Borges, 34 anos e professor do curso de Engenharia de Produção da Faculdade Redentor. Borges tinha emprego e rotina habituais de alguém com uma atividade tradicional.

Até que em 2014 ele fez uma proposta de uma lista de exercícios para seus alunos de Matemática Financeira. Após ter gravado as resoluções, ele as postou em um canal fechado de Youtube em vez de apenas liberar o gabarito.

A ideia caiu no gosto dos alunos e foi o que deu origem à startup Me Passa Aí. Com o sucesso da proposta, a empresa já arrecadou mais de R$ 250.000 em investimentos e conta com 25 mil usuários cadastrados em todo o país.

Funciona assim: a startup recruta alunos para ensinar. Segundo os fundadores, são seus “nerds”, que se destacam nas aulas e ao mesmo tempo sabem repassar o conhecimento na língua dos colegas, potencializando assim, muito mais a absorção das matérias. Eles seguem uma metodologia própria, para criação de vídeo aulas de até 8 minutos, todas elas gravadas em um único estúdio, estruturadas e aprovadas por professores certificados.

Tudo isso com conteúdo selecionado a partir dos livros mais usados de cada disciplina no país para abranger o maior número de alunos possível. Outro benefício é o aluno, ao finalizar algum módulo, receber um certificado de conclusão que pode ser usado para abater horas complementares, exigidas por todos os cursos universitários. São três tipos de plano: Mensal, Semestral e Anual, sendo possível a emissão de certificados a partir do plano de seis meses.

Por isso eu digo, o momento certo para empreender está em cada um. Devemos estar atentos no despertar do que chamo de “nosso relógio interno da inquietude”. Para uns ele aciona mais cedo, para outros mais tarde. Pode ser que ele nunca toque e nem por isso esteja quebrado.

Lucas Paschoal