Há alguns dias estávamos prestes a deixar para trás um dos anos mais difíceis dos últimos tempos. 2016 tirou o sono; o emprego e a paz de muitas pessoas, e apesar de termos sobrevivido, ainda há muito a fazer para retomar o que ficou estagnado e até um pouco perdido nos 365 dias do ano passado. Mesmo assim, nem tudo foram trevas, 2016 foi, sem dúvida, o ano em que a corrupção do nosso país levou um grande tombo, investigações atingiram seu ápice e cada vez mais máscaras têm caído e o povo cobrado; outro grande evento foram os Jogos Olímpicos, já que, ainda que com ressalvas, mostrou que estamos aptos a receber e a suportar esse tipo de acontecimento. Claro que não poderíamos esquecer do polêmico impeachment de Dilma Roussef, o segundo no Brasil, e, mundialmente falando, a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Depois de tantos eventos fica a lição, segundo Mario de Andrade, “o passado é para refletir, não para repetir”. O que aprendemos com 2016 foi muito valioso, é chegada a hora de se atentar a cada lição, especialmente em um dos campos mais afetados por toda a crise, o do mercado de trabalho e da gestão de pessoas. Com tudo o que 2016 nos ensinou, o que esperar de 2017?
Aproveitamento internacional de talentos
Empresas globais têm olhando cada vez mais atentamente para seus talentos, a estratégia delas é identificar o melhor, independentemente do local em que se encontrem, e transferi-lo para um centro de desenvolvimento e inovação. Tais experiências podem ter prazo ou serem permanentes, mas no fundo, o que essas organizações buscam é garantir que o conhecimento do negócio não se perca, e criar um time diverso e expert na sua área de atuação. E cuidado para não cair no discurso de ‘barreiras culturais’, isso vai totalmente contra o pensamento dessas empresas, as quais vale lembrar, movimentam economias e geram riquezas, ou seja, seu papel é muito importante dentro dos países e Estados.
Esse movimento começou há algum tempo, e tende, sem dúvida, ser reforçado esse ano, o que pode gerar, a longo prazo, problemas para economias ainda em desenvolvimento. Alemanha e Estados Unidos são, por exemplo, grandes potências no que diz respeito à importação de talentos. O fato é que, caso não se atentem para as promoções dos seus cidadãos, países como Brasil, Argentina, México, África do Sul e Índia, correm o risco de se tornar espectadores desse novo desenvolvimento e vão sofrer as consequências, cada vez mais nos tornaremos consumidores do que é produzido lá fora.
Diversidade
Seguindo a ideia do aproveitamento internacional de talentos, a diversidade é também um movimento-chave para o mercado de trabalho em 2017. As ações corporativas que buscam integrar homens e mulheres – além da diversidade de gênero, etnia, orientação sexual, idade, deficiência – no mesmo time, ganharão ainda mais força esse ano, e apesar de estarmos há uma boa distância do mundo ideal, as organizações que já seguem essa onda estão, com toda a certeza, à frente e já colhem bons frutos pela escolha. As organizações precisam perceber que a diversidade dá acesso a informações que permitem criar e desenvolver melhor seus produtos, além de também compreender entender melhor outras culturas.
Human Cloud
Outro caminho que o mercado tem tomado é o do chamado ‘human cloud’, isso acontece quando profissionais independentes são contratados por projeto ou por tarefas e comandados remotamente. Por exemplo, um programador que atua em um projeto específico no Brasil, pode ser gerenciado por um coordenador que trabalha na Suíça, talvez na sede da empresa. A tendência indica cada vez mais o uso conhecimento de profissionais por meio de iniciativas não tradicionais. E ATENÇÃO, não confunda com o gig economy, outra importante direção do mercado, mas que endereça tudo o que é viabilizado por meio da tecnologia.
No sentido do human cloud, as hierarquias estão ultrapassando continentes, mas ainda assim não mudando a relação de poder entre líder e liderado. Para se ter uma ideia, em 2015 o Staffing Industry Analysts já havia feito uma pesquisa sobre o tema, mostrando que companhias globais já tinham gasto entre U$ 2,8 bilhões e U$ 3,7 bilhões com mão de obra sob demanda. O movimento vai continuar e se intensificar.
Atualização da mão de obra humana
Sabemos que cada vez mais a computação cognitiva e a robótica têm tomado seu lugar no mercado, e ainda que muito se fale sobre a possibilidade desses robôs ocuparem ou não o lugar dos humanos, é preciso estar atento à necessidade de atualização constante que nós, humanos, precisaremos realizar. Pois uma vez que tais robôs são dedicados a atividades repetitivas, cabe a nós, buscar nos estudos a atualização que vai nos diferenciar dessas máquinas, incitar a criatividade e a inovação será mandatório num próximo – e não tão longe – momento.
O mundo está mudando, e não apenas por meio da tecnologia, mas o mercado de trabalho acompanha esse fluxo e tende a trazer grandes novidades. A responsabilidade agora fica por parte das organizações, pois as que ainda não perceberam essa necessidade, podem perder e muito no caminho.
Antonio Loureiro – Sócio-fundador da Conquest One, consultoria brasileira de TI com atuação em Outsourcing e Hunting.