No final do ano passado, fui convidado para ministrar uma palestra na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho – SIPAT. Como fruto das coisas que ando escutando em sala de aula e na clínica, resolvi levar para eles a reflexão: “Insalubridade Comportamental no Trabalho e o uso dos EPE.”
Comecei explicando o que EPE significaria na palestra: Equipamentos de Proteção Emocional. E da importância do uso do EPE no atual mundo do trabalho, um tanto insalubre. Esse ambiente, do ponto de vista comportamental, é agravado pela crise institucional, econômica e política pela qual passamos.
O mundo do trabalho sofre com a ameaça do desemprego rondando a cabeça do trabalhador todos os dias; com o enxugamento de quadros aumentando a sobrecarga laboral; e com a ampliação das metas de produtividade e desempenho profissional, conduzidas por uma gestão, muitas vezes, que mais amedronta do que lidera.
Em ambientes de muita pressão ficamos regidos por dois hormônios: cortisol e adrenalina. São hormônios da sobrevivência que foram fundamentais na história da humanidade. Contudo, em excesso, eles consomem energia emocional positiva e inviabilizam o cultivar dos valores/atitudes de paz, justiça, esperança, bondade, mansidão, solidariedade, empatia, cooperação, amorosidade, flexibilidade cognitiva, perdão, respeito e gentileza.
Em ambientes de insalubridade comportamental, nosso cérebro reptiliano ativa os modos comportamentais: atacar, defender ou fugir, e perdemos a capacidade de transcender, de fluir, de ver o que nos ocorre por uma perspectiva diferenciada, mais ampla e contextualizada. Então, adoecemos emocionalmente, ou fazemos o outro adoecer.
Aprende-se de pequeno a ser intolerante com o outro, rabugento, crítico, negativo, mimado, sem limites, e um ser de ego inflado e narcisista, que exige que o mundo gire em torno de si e lhe sirva.
Nessa palestra, nas aulas e nos atendimentos psicológicos costumo prescrever três “equipamentos de proteção”, úteis à prevenção da saúde emocional, em lugres tóxicos.
O primeiro deles é o da autoconsciência da pessoa que estamos nos tornando, do que realmente queremos ser, e do que de bom deixamos esquecidos no porão de nossas vidas. Crescer em valores e atitudes positivas é uma decisão que subverte a ordem reinante, à natureza das coisas e dos rotineiros maus hábitos.
O segundo deles é reaprender a prestar atenção ao bom, belo e virtuoso que ocorre nas beiradas do viver. Lá na avenida do contorno de nossos corações. No modo defender, atacar ou fugir, concentramo-nos nas aflições do cotidiano e perdemos capacidades de ver às flores à beira do caminho. Ao expandir as fronteiras de nossa consciência, de nossos pensamentos, ativando um modo de percepção seletiva das coisas boas que apesar dos pesares ainda nos ocorrem, nas periferias de nossa vida, acabamos por oxigenar o nosso existir.
Por último, é aprender a vigiar os nossos pensamentos ruins, ficar de tocaia sobre eles, observando-lhes chegar e sobre eles agir. Tal qual faz o Olheiro, ao anunciar aos pescadores que vem entrando um cardume de tainhas e que eles podem lançar suas redes ao mar. Essa postura de anatomista de nossos pensamentos é fundamental para não “ficarmos como eles”, e eu diria, até piores. Ser vigia de pensamento ruim é aprender a debater consigo mesmo, colocando as coisas noutras perspectivas, mais amplas, menos doloridas, com menos vitimização ou visão negativa, volto a dizer: de nós mesmos, dos outros e ou da realidade.
Esses três equipamentos darão a força necessária para não adoecer no ambiente de trabalho, e até em promover mudanças que melhorem a qualidade de vida no trabalho, o clima organizacional, repercutindo positivamente na percepção dos sentidos e significado do trabalho.
Quanto às feras emocionais que contigo dividem a baia, caso elas não mudem, mude a si mesmo. E, com um gostinho de coragem e um risinho no canto dos lábios, diga a si mesmo: “pelo menos não sou e não serei; não faço e não farei, como eles. ”
Ficam as dicas…
Ricardo de Faria Barros